No início do século 20, no Ceará, os poderes públicos estadual e federal criaram campos de concentração para evitar que flagelados famintos fugindo do sertão semi-árido chegassem a Fortaleza.
O objetivo dos campos era evitar que os retirantes alcançassem Fortaleza, trazendo "o caos, a miséria, a moléstia e a sujeira", como informavam os boletins do poder público à época. Naquele ano, criou-se o campo de concentração (era assim mesmo que se chamava) do Alagadiço, nos arredores da capital cearense, cenário do livro de Rachel. Ele chegou a juntar 8 mil esfarrapados, que recebiam alguma comida e permaneciam vigiados por soldados.A segregação dos miseráveis era lei, mas chegou um momento em que o flagelo em massa era tão chocante, com uma média de 150 mortes diárias, que o governo do Estado ordenou, em 18 de dezembro 1915, como contam os arquivos dos jornais da época, a dispersão dos flagelados, ou "molambudos", como eram também conhecidos.
O medo das autoridades diante dos flagelados da seca tinha um antecedente. Em 1877, uma leva de cerca de 110 mil famintos saiu dos sertões e tomou as ruas de Fortaleza, assombrando os moradores que viviam a ilusão, importada de Paris, de urbanismo e civilidade.
No livro A Fome, o mais consistente relato sobre o cenário de 1877 nas ruas da capital, o cientista social e escritor Rodolfo Teófilo assim des creve o que viu: "A peste e a fome matam mais de 400 por dia!
Crianças que morrem nos abarracamentos, como são conduzidas! Pela manhã os encarregados de sepultá-las vão recolhendo-as em um grande saco; e, ensacados os cadáveres, é atado aquele sudário de grossa estopa a um pau e conduzido para a sepultura".
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