Disneyismo: Cada coisa é apenas um jogo de Marketing.


Pesquisadora canadense investiga a 'fé' em Disney

Palco de adoração seriam parques temáticos e a internet.
'Guerra nas estrelas' e 'Jornada nas estrelas' também teriam seus devotos, defende.

Toda religião é um conjunto de idéias, sentimentos e rituais compartilhado por um grupo. Pois, se existe o catolicismo, o judaísmo e o islamismo, por que não então o "disneyismo"? Essa questão é a que vem movendo a pesquisa de Jennifer Porter, professora do Departamento de Estudos Religiosos da Memorial University, no Canadá.

Por mais inusitada que possa parecer, a proposta faz sentido quando se considera a quantidade de fãs que prestam anualmente suas homenagens ao universo de Walt Disney, seja assistindo a seus filmes e desenhos, visitando os parques e, principalmente, trocando idéias sobre tudo isso - ou seja, propagando sua fé - nas comunidades da internet.

O G1 conversou com Porter, que é também autora de outros estudos sobre religiosidade pop, como a praticada pelos fãs de "Guerra nas estrelas" e "Jornada nas estrelas". Leia abaixo a entrevista.

G1 - O que a senhora quer dizer quando fala em Disney como uma religão?
Jennifer Porter -
Muitos fãs da Disney são extremamente devotados, e essa devoção se expressa de diversas maneiras, desde assistindo aos filmes da Disney, passando por visitar os parques temáticos, comprar os produtos relacionados, ler as biografias e histórias de (Walt) Disney até conversar com os amigos sobre o que Disney significa para eles. Para alguns, seu nível de comprometimento determina a própria maneira de eles se definirem, seus relacionamentos, e seu entendimento sobre a natureza do mundo a seu redor. Quando algo atinge um nível de importância que molda nossa compreensão do que significa ser humano, fazer parte de uma comunidade de pessoas com as mesmas crenças, e molda nosso entendimento do universo a nosso redor e de como o mundo é e deveria ser, então esse algo se torna religioso. E penso que Disney preenche esse papel para alguns fãs, ainda que certamente não para todos.

G1 - Todas as religiões têm seus santos, profetas ou personagens arquetípicos. É possível encontrá-los no universo de Disney também?
Porter -
Acredito que no caso de Disney, o "personagem" central, se preferir, é o próprio Walt Disney. Os fãs idealizam Disney, como um artista, filósofo e homem de negócios, e ele se tornou um modelo para muitos fãs tentarem seguir. Você se lembra de uma campanha, anos atrás, que perguntava às pessoas para medirem suas ações perguntando primeiro "o que Jesus faria?".Bem, acho que para muitos fãs fiéis de Disney, a questão central seria "o que Walt Disney faria?".

G1 - Personagens da Disney também já foram usados por religiosos para criticar o capitalismo e os Estados Unidos, como aconteceu recentemente com o Farfour, o "Mickey" do partido islâmico Hamas. Como você vê essa reação?
Porter -
Acho que Disney é um alvo facilmente identificável quando se trata de críticas globais à América capitalista. A Walt Disney Company sozinha fez mais de US$ 360 bilhões no ano passado, o que faz dela claramente uma corporação capitalista. Os filmes de Disney foram acusados de promoverem uma mensagem pró-americana, branca, colonialista, patriarcal - Aladin, por exemplo, foi extensivamente criticado com relação a isso. Uma das características mais marcantes de Disney é o fato de idealizar uma imagem de "America" que é bastante nostálgica e pró-Estados Unidos. Por isso, o símbolo central de Disney - Mikcey Mouse - é igualável a "América", e não me surpreende que seja alvo daqueles que se opõem à política e à ideologia americanas.

G1 - Ainda no Reino Mágico, você acredita que personagens icônicos como Mickey e cia. sejam tão fortes quanto coisas mais contemporâneas da Disney, como Hannah Montana e a turma de "High school musical"? Seriam esses os novos messias?
Porter -
Creio que persogens como Mickey são tão fortes quanto costumavam ser, talvez em partes porque a Disney os comercializa tão extensivamente. Ao mesmo tempo, coisas como "High school musical" e "Hannah Montana" e "Piratas do Caribe" atingem um público diferente, aquele que talvez não compre necessariamente a visão nostálgica da América que está no coração do império de Disney. Esses produtos mais contemporâneos da Disney são transitórios, na minha visão - eles fazem a ponte entre os personagens da infância da Disney (as princesas, Mickey, Winnie e Pooh) e a nostalgia dos adultos por eles. Não acho que sejam os novos messias, mas acredito sim que sejam uma estratégia de marketing inteligente da Walt Disney Co.


G1 - Como você compararia os fiéis da Disney aos outros "religiosos pop" que pesquisou, como os seguidores da doutrina Jedi e os Trekkers (fãs de "Jornada nas estrelas")?
Porter -
Minha pesquisa na comunidade de fãs de Disney está apenas começando e ainda tenho muito a aprender sobre eles. Eu noto de fato algumas similaridades - os fãs de "Jornada nas estrelas" idealizam (o criador da série) Gene Roddenberry do mesmo modo que os fãs de Disney idealizam Walt Disney - mas eu acredito que precise pesquisar mais e conversar muito mais com fãs de Disney antes de poder fazer justiça à essa questão.

G1 - Qual é o papel da internet em disseminar a fé nessas novas religiões?
Porter -
O papel da internet é imenso e inegável. A internet permite a formação de comunidades que não seriam possíveis de outra maneira. Indivíduos que poderiam nunca ter conhecido outros fãs fervorosos de Disney (ou "Jornada" etc.) na vida real, podem encontrar milhares de indivíduos que pensam do mesmo jeito on-line. Isso permite que comunidades de afiliação voluntário floresçam, e dá aos fãs a chance de encontrar espaço onde possam ser aceitos por seus pares sem desconfiança. É algo poderoso


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